domingo, 7 de outubro de 2012

Sing, sing, sing...

Dias sem café e noites sem sono. Antes de tomar aquele banho pra ir votar, filar o almoço na casa da mamãe e partir para dois (ou três) ensaios, é hora de escrever umas linhas para o blog que é atualizado uma vez a cada década.

Enquanto tentava dormir, desviei o pensamento para a forma blasé, leviana e até desrespeitosa (geralmente sem intenção) com que às vezes os instrumentistas tratam o canto. Não me refiro a nenhum músico em especial, mas ao contexto, o "inconsciente coletivo" desse nicho, pra usar uma expressão da moda. Quando eu vejo um instrumentista entrando no assunto interpretação, acho até surpreendente, quase refinado. Quando existe algum conhecimento de causa (real; não alegado) então, é a exceção das exceções. 

Uma vez um amigo quis me corrigir: "Você quer dizer interpretação do vocal". Não, porque isso nem existe. É interpretação da composição. Todos interpretam, bem ou mal, e não apenas executam, mas aí a discussão já vira sexo dos anjos. Quanto a melodia e letra da composição cantada, o papel de intérprete se desdobra por motivos óbvios. Parece que o público, ou parte dele, reconhece esse papel com mais facilidade que o próprio artista e músico, muitas vezes só preocupado com as questões técnicas - o que geralmente é um quadro até bom, porque pode não haver nem isso.

A culpa cai também sobre nós, cantores. Muitos de nós fazem desse trabalho um mundo semi-profissonal de aventureiros. Há vários anos já superei aquela fase de usar como muleta a "propriedade" da emoção, do feeling (termo quase sempre tão mal empregado). Todo mundo é gente e tem emoções, sentimentos et al. É balela dizer que a evolução técnica vai domesticar o músico, transformá-lo em robozinho ou podar o feeling (ui!). Ao contrário: Quanto mais a parte mecânica é dominada, maior é a entrega. Lido com isso no dia a dia em duas frentes: o canto e a locução. Técnica vocal, fono e prática de interpretação fazem uma diferença brutal, e isso só se aprende fazendo; cantando e vivendo ao mesmo tempo. Ou sendo público, com ouvidos de público "leigo" e aquele senso crítico de quem questiona e se interessa.

post-scriptum (chique, né?) ::::: Descendo as páginas deste blog, notei que várias postagens iniciam se referindo à raridade das atualizações. Achei engraçado.


domingo, 17 de abril de 2011

Mais uma virada. Mais uma pequena página.

Assisti a alguns shows na Virada Cultural:
Rita - o show é muito mais domesticado do que ela mesma é. Não combina.
Edgar Winter - Competência 100%, mas muito tempo do show desperdiçado em masturbações vocais e instrumentais em detrimento do repertório rico que o cara tem.
Slim Jim Phantom - Meu ídolo apenas cumpriu tabela. Fico com a memória dos Stray Cats no Projeto SP, 1990.
Misfits - Gloriosamente tosco (exceto o baterista). A banda que eu menos conhecia, e o único show que me impressionou. Pena que faltou "Last Caress", a letra mais ofensiva do mundo.
Plebe Rude - Gostei! Vários hits e muita simpatia do cantor Philippe Seabra, que no palco se revela o Dan Stulbach do rock.
Perdi o Erasmo! Mas foi por uma causa justa: tivemos ensaio muito importante no coral.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Parabéns, mala Ruy Castro!

Sempre exaltarei a qualidade do texto e do trabalho de Ruy Castro. E sempre disse, também, que ele é um tremendo mala. Porque ele é e sempre será. Claro que não pessoalmente --até porque nem o conheço. Mas por suas opiniões e generalizações, sempre preconceituosas, sobre gêneros musicais como o rock e o blues, em favor dos gêneros que reconhece como autênticos, como se isso fosse necessário. Mas quando o asssunto é exclusivamente a cultura reconhecida por ele, como por exemplo a Bossa Nova e suas consequências, aí tudo muda. Aí, sai de baixo! Aí vem o texto que faz tudo valer a pena. Quando se abre um livro como A Onda que se Ergueu no Mar (2001), assim como o indispensável Chega de Saudade (1990) (ambos da Companhia das Letras), dá pra se esquecer, fácil, aquelas mau-agourentas páginas que vez por outra nos jornais traziam estilos e artistas "ruins" colocados como vilões necessários à exaltação dos bons e válidos.

Parabéns ao Ruy Castro por me fazer voltar a este espaço, quase sempre esquecido, após ler nesse delicioso A Onda... um capítulo inteiro dedicado à relação atemporal (e restrita pelo próprio tempo) entre Tom e Noel.

Você sabia que Tom Jobim (1927-1994), para muitos o maior compositor brasileiro, e Noel Rosa (1910-1937), para mim o ser humano mais admirável que já viveu, nasceram pelas mãos do mesmo Dr. José Rodrigues da Graça Mello? Não foi por acaso: Noel nasceu na Vila Isabel, e Tom na Tijuca. Bairros vizinhos, no Rio.

Tom era um grande admirador de Noel, como a Bossa Nova toda poderia ter sido mais explicitamente, não fosse o Poeta da Vila adotado à sua revelia pelos detratores, inimigos (gratuitos?) do movimento, como exemplo da "pureza" do samba que a Bossa subverteria. Logo ele, Noel, um inventor de integrações inusitadas, e um dos renovadores do gênero Samba ao longo dos anos 30. Logo ele, o criador, em 1930, da nova definição para o termo bossa, importado das teorias da medicina para a cultura popular.

Meu muito estimado mala Ruy Castro conta como Tom, em 1991,
adiciona novo brilho à obra original de Noel, usando as descobertas harmônicas de um mundo pós-Noel que o próprio Tom fizera. Como Tom admira a classuda composição "Três apitos" e a irônica "João Ninguém", as quais gravou para o CD do Songbook de Noel. E como poderia ter emprestado sua genialidade de arranjador e (por que não?) suas qualidades de intérprete a um álbum inteiro só com composições de Noel Rosa, se não fossem as limitações impostas por questões do mercado fonográfico. E conta ainda (isso pra mim é alarmante) como a inédita "Chuva de Vento", letra para embolada sem a música, poderia, apenas poderia ter sido musicada por Tom, tornando-se, naquele ano, uma parceria entre os dois gênios.

É, Ruy, ao ler páginas como essas e tantas outras, todo o recalque que identifico em momentos menos felizes (que são minoria) de sua escrita, até por ser recalque e de um aparente rancor bobo, apaga-se. E fica uma qualidade de texto e informação sublime, poucas vezes presente em literatura musical. Bem que poderia ser sempre assim.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Let My People Go!

Hoje fomos ao Solo Sagrado da Igreja Messiânica, sul da Zona Sul de Sampa, para fazer um concerto especial do Madrigal VivArte, de nossa série negro spirituals. Às três da tarde, hora da apresentação, o público no auditório era o que se pode ter em um espetáculo desse tipo --afinal não se deve esperar, no Brasil, uma casa lotada numa apresentação de um grupo vocal acappella com repertório extraído das raízes da música popular americana. Mas era de se esperar o profundo interesse, envolvimento e comoção dos que se prestaram a ocupar a metade dos assentos. E houve. Sim, em parte houve. O espetáculo não é de cunho religioso, e sim artístico. Quem vai ao denominado Solo Sagrado, e vai em busca de paz de espírito, entra no auditório para ouvir música feita com paixão. Mas há exceções. Há os que não sabem o que estão fazendo quando entram em um auditório onde haverá um espetáculo de música. Que será que estes entendem por música?

Um dos momentos mais intensos do programa (e sem dúvida o mais tenso e comovente) é o solo de nosso baixo Valter Lellis no spititual "Take My Mother Home". Esta composição tradicional diz; "I think I heard him say when he was struggling up the hill / I think I heard him say, take my mother home / Then I'll die easy, take my mother home", reproduzindo a piedade de Jesus pela Mãe, do início ao fim do calvário. Não depende de a pessoa ser ou não religiosa --o drama, dentro da fábula, é sobre a vida, e capaz de arrancar a emoção, a reflexão, até do mais mesquinho mortal. Não depende de a pessoa entender inglês ou não --o intérprete não só descreve antes, passo a passo, o conteúdo da letra, como a "vive" além das palavras. Mas eu disse acima que havia exceções no nosso público, não disse? É inacreditável que três ou quatro pessoas se levantem e saiam do auditório, nitidamente por falta de interesse, durante uma digna interpretação de "Take My Mother Home". É impossível. Mas o impossível acontece. Se o espectador se retira em protesto, tudo bem! É direito dele não compreender que o objetivo do trabalho ali apresentado, por não ser religioso, não fere nenhum princípio. Não é o caso dessas exceções que vi, enquanto descansava minha voz para meu próprio solo (em "Ev'ry Time I Feel The Spirit"). O que pude ver estampado nas faces, ou melhor, nas costas das poucas pessoas que saíam, é que nosso público nunca estará preparado nem disposto a tomar posse de seu direito de absorver a cultura. Nem mesmo do direito de pensar...
A constatação mais pesarosa, ainda, é a de que na verdade as exceções não são os que saíam: são os que vão atrás da cultura, seja esta, essa ou aquela; são os que se permitem pensar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ginseng

Neste domingo teve show do Black Sheep no The Clock. Aconteceu uma coisa dessas que fazem a gente ter mais certeza de que vale a pena. No intervalo do show (foram dois sets), um garoto, com certeza com menos de dez anos, me chamou e me agradeceu por eu ter cantado "aquela" música. Disse que adorou a banda, o show, a dança das pessoas... "Com aquela música, eu criei coragem de tirar pra dançar aquela menina ali, e agora eu tô apaixonado", esse disse.
É, no The Clock aos domingos alguns pais levam crianças, porque o horário é bem mais cedo.
É mais por outras, mas também por essas, que o rock'n'roll mesmo é esse, que é feito hoje igual ao dos anos 50, que tem uma dança especial e espetacular.
Também é por essas e outras que a profissão de músico, e no meu caso cantor, intérprete, é uma das melhores que eu poderia ter "escolhido" (a outra eu escolhi de fato, mas só recentemente, e vai rolar também).


Apresentação do Tomada no programa Poploaded de Lucio Ribeiro e Fabio Massari, no iG:
Tomada - Billy, o esquisito
http://tvig.ig.com.br/132189/tomada---billy-o-esquisito.htm
Tomada - Bla bla bla, bla bla bla
http://tvig.ig.com.br/132195/tomada---bla-bla-bla-bla-bla-bla.htm
Tomada - 99 Centavos
http://tvig.ig.com.br/132201/tomada---99-centevos.htm
Tomada - Tem dias
http://tvig.ig.com.br/132207/tomada---tem-dias.htm

sexta-feira, 28 de março de 2008

Zzzzzzzzzz...

Hora de reativar este blog. Coisas legais acontecem e a gente nem manda pra cá! Falta de tempo? Nizan Guanaes disse na TV que só quem não tem tempo é desocupado! Tempo a gente tem, o difícil é organizar.

Black Sheep Rules, a banda de rockabilly, e sua formação atual são motivos de muita alegria. Além da minha voz e do Gaspa no baixo acústico, temos o Ricardinho Cunha na guitarra e o Zeh na batera.

E hoje que é sexta-feira tem Black Sheep Rules ao vivo no Astronete, que fica na Rua Matias Aires, 183, aqui em Sampa.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Show dia 6 de dezembro

Estaremos lá...

Show do Pepe, baixista do Tomada, lançando seu próprio CD. Com participação de todos nós.
Quinta-feira, 6 de dezembro, 19 h.
Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1000.
Entrada grátis.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Curta

Puisque tout passe...
poema de Rainer Maria Rilke [1875-1926]


Puisque tout passe, faisons
la mélodie passagère ;
celle qui nous désaltère,
aura de nous raison.

Chantons ce qui nous quitte
avec amour et art ;
soyons plus vite
que le rapide départ.


Ou seja: Como tudo passa, façamos a melodia passageira; aquela que nos inebria terá prefenência. Cantemos o que nos abandona com amor e arte; sejamos mais rápidos que a rápida partida.


Este inspiradíssimo poema, musicado por Paul Hindemith [1895-1963], faz parte do repertório do Madrigal VivArte, o grupo coral de que faço parte. Pra minha sorte!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O gremista de vermelho!


Gaúcho do Trovão, gremista, em camiseta colorada no ensaio da Cracker Blues.
Quinta, véspera do feriadão da Padroeira, tem Cracker Blues convida Ricardo Alpendre no Willi Willie (ver postagem abaixo).
É aniversário do Tiago, webmaster e artista gráfico, pra lá de envolvido no projeto do terceiro álbum do Tomada, Inevitável, que sai em 2008 e estará comentado neste blog em breve.
Esta semana é Go Cracker Go!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Cracker Blues me convida

Clique para ampliar

A grande banda Cracker Blues me convida para fazer parte de seu show dia 11 de outubro (quinta-feira, véspera do feriado) a partir das 22h no Willi Willie Bar e arquearia. Alameda dos Pamaris, 30, Moema. O show faz parte do projeto Cracker Blues Convida, em que a banda recebe no palco artistas da cena rock e blues nacional. Desta vez quem terá a honra de estar com eles é este seu croooooooner! Tocaremos algumas músicas pra lá de suculentas do rock'n'roll e rhythm & blues.
Quem sabe, canta; quem sabe muito mais, dança.
Dá-lhe Cracker!!!

sábado, 29 de setembro de 2007

O X do Problema


Assisti ao filme Noel - Poeta da Vila, que conta a história, ou na verdade partes dela, da vida e obra de Noel Rosa. Fui à sessão para imprensa, obviamente para uma apreciação mais musical e iconográfica do que na intenção de ensaiar uma análise nos termos da sétima arte. Mesmo assim, do alto da minha condição de semi-analfabeto cinematográfico, posso afirmar que, enquanto cinema, ele é bom. Ele, o filme, é claro. Não brilhante; apenas bom. Mas bom já é o bastante. O personagem se encarrega do resto. Sim: Ele, Noel Rosa, é brilhante. Ou melhor, não há adjetivos! Idem para o Rio dos anos 1930.

O elenco está muito bem, com destaque para Noel Rapo... digo, Rafael Raposo no papel principal, e para os sambistas envolvidos, principalmente Mário Broder e Wilson das Neves. Este, mais conhecido por ser um consagrado baterista da MPB (Baterista Wilson das Neves chegando a ser subtítulo de um álbum homônimo de Elza Soares), ao representar o motorista profissional e cantor amador Papagaio, deixa como gema semi-lapidada o maior presente do filme ao expectador mais atento: a mais apaixonada e talvez a melhor interpretação gravada da canção que muitos consideram a obra-prima de Noel, "Último Desejo". É a cena em que Noel vai mostrar à mulher de sua vida, Ceci (Camila Pitanga) o seu samba de adeus, e que seria também a despedida da verve criativa de Noel ao mundo. Papagaio canta para Ceci a música de Noel, que está ao violão. Momento sublime. O filme, cuidadosamente ou não, apenas conta, com um texto na tela, a morte de Noel Rosa, pouco tempo depois, vencido pela tuberculose.

Por fim, o filme acerta, embora não pudesse ser diferente, ao se basear em Noel Rosa - Uma Biografia, o livro de João Máximo e Carlos Didier (um dos tijolos mais bem-escritos do planeta Brasil). Mas acerta ou não ao contar partes, embora importantes, mas não a vida de Noel como um todo, pulando arbitrariamente no tempo? O panorama fica completo para quem não leu o livro ou ainda não é familiarizado com a vida e A obra? Não. Contar a história de Noel de Medeiros Rosa em 99 minutos, este é que é o X do problema. Quer saber? Assista, sim. Estréia dia 2 de novembro. Assista, porque mesmo com o pulo de cinco anos, a pouca visibilidade do tão importante parceiro Vadico, e outros pequenos incômodos, você precisa dessa dose cavalar de poesia.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Quinta, 19/7, tem MTV e Mr. Blues



Tomada nesta quinta-feira no bar Mr. Blues.

Antes, às 20h30 tem Tomada tocando ao vivo no Jornal da MTV.

Rock'n'roll soul power!!!

segunda-feira, 18 de junho de 2007

É, João... É Rock!

Cartaz do show com o Tomada, dia 30 de junho.



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Sábado, 16/6, estive em Ribeirão Preto cobrindo o festival João Rock para a revista Paisà. Quando a matéria estiver no site, aviso aqui no blog. Presenciei um momento histórico: o reencontro dos Mutantes com Caetano, quando este entrou no show da banda para uma canja em "Baby". Um momento pra não se esquecer. Show idem.
Revi Joe, Duda e o muito amigo Martin Mendonça, ou seja a banda de Pitty. Estes e ela também deram showzaço. O que foi também o caso do Charlie Brown Jr. Como vocês bem sabem, não tenho a banda do cantor Chorão (o CBJr) entre minhas preferências musicais, mas, tanto pelo show quanto pelo backstage, saí com a conviccão de que se há gente que merece uma verdadeira legião de fãs hoje, Chorão é esse cara. Um cara que zela pelo bem do seu público! De quebra, assistiu ao show dos Mutantes dali da área da imprensa, curtindo até o osso!
A coletiva dos Mutantes, logo após o show, foi curta, cercada de muita expectativa, e qualquer tensão foi sendo quebrada por Sérgio, Arnaldo, Zélia e Dinho, todos super à vontade. Antes de subir para o quarto do hotel, encontrei Dinho Leme no saguão. Gente boníssima! Confirmou para mim a historinha sobre Arnaldo dizendo "Ô, meu, cê sabia que o Dinho é de Rancharia?" para o diretor do Midem em Paris.
Uma das melhores vibes de todos os tempos estava lá em Ribeirão por conta desse festival. Aguardem a matéria, que será boa. Postarei o link pra vocês.
Abraços ao professor Franklin Ruão.

sábado, 26 de maio de 2007

Cartola

Um bom filme reacendeu... reacendeu, não, pois nunca se apagou... Vejamos. Um bom filme trouxe de volta o foco a um amor incondicional e até desmedido pela obra de Cartola.

Costuma-se dizer, e com razão, a partir de seus álbuns dos anos 70 (seus únicos), que o mestre Cartola revelou-se o melhor intérprete dele próprio. Pois aqui está o agora onipresente Cartola a desafiar minha tese de que não há homens que cantam tanto quanto mulheres. Ouvindo o mangueirense neste computador, eu agora deveria estar escrevendo sobre outras coisas. Tenho compromissos a cumprir, mas como não vir aqui ao blog pra falar do Cartola? No filme, que ainda deve estar em cartaz, há pelo menos duas cenas em que não dá pra segurar o rojão e a gente lembra que é ser humano, mortal. Em uma delas, o mestre ao violão cantando "O mundo é um moinho" para o pai, num momento da vida que era de tropeço, de puro revés --torço tanto para eu estar enganado, e para que tenha sido um momento feliz! Em outra, planos do cotidiano carioca e do adeus servem de clip para a gravação de "O inverno do meu tempo". As imagens parecem um caleidoscópio através da água nos olhos, porque, citando Vinícius e Toquinho, "você pode estar certo que vai chorar".

domingo, 6 de maio de 2007

Virada, Virada, Virada!

É uma pena que não tenho tido tempo para atualizar este blog. Nem escrevi sobre a ida ao Rio para a distribuição da revista Paisà, que trata de cinema, e das epopéias maracanosas.

Mas a Virada Cultural em Sampa não vai dar pra passar em branco. Passei pelo Palco Rock perto das sete da noite para ver a segunda metade da apresentação de Percy (ex-Made, Patrulha, Harppia...). A banda, que tem um guitarrista bem anos 80, traz um novo vigor nos arranjos de hits underground do rock Brasil.

Depois de um lanche fui para a fila da atração que eu mais esperava: João Donato no Theatro Municipal às nove da noite. Teoricamente ele iria tocar o álbum A Bad Donato, de 1970, mas transcendeu. Na banda, feríssimas como Robertinho Silva, o batera que toca sorrindo o tempo todo --e que monstro de músico!--, e o trombonista Bocato. Redenção pura que valeu a hora de espera na fila, facilitada pelo encontro com a turma dos cinéfilos malucos, tudo gente da melhor qualidade. Após a surra de Donato e companhia, fomos ao Mercadão Municipal comer. Meu sanduíche de pernil veio com uma aparência de que iria desbancar o do Estadão, mas comeu poeira na disputa, o que constatei após algumas mordidas. Bom de qualquer forma; e o chopp, corretíssimo, cremoso e tudo.

Caminhávamos para sair do Mercadão e, sensacional! O evento mais inusitado da noite: Por causa da Virada o Mercado ficou aberto até altas horas (por isso estávamos lá), tendo inclusive um espetáculo de tango, básico demais. A caminho da saída desse grande centro turístico e gastronômico paulistano, um dos bares ostentava uma TV de plasma widescreen, que como de praxe estava na configuração errada distorcendo a imagem, e o pessoal nem percebe (!). Até aqui eu não disse que o público no lugar incluía famílias inteiras, casais com crianças, vários idosos e tal, programão família, mesmo a essa altura já sendo meia-noite e quarenta. Pois a tal TV de plasma mostrava enorme o programa Sexytime, da TV a cabo, para todo o corredor em que estava aquele bar. Simplesmente estava ligada naquele canal e continuou, e a mulher em seu strip-tease, toda se passando as mãos e... por Júpiter! Já me estendi mais nessa bizarrice do que no showZAÇO do Donato. É que eu ri tanto...

Volta ao Theatro Municipal, volta à fila, desta vez uma hora e meia antes do início do show de Jards Macalé. Pois Jards veio ao palco às três da manhã com ele próprio ao violão, só Arismar do Espírito Santo no baixo, Nenê na bateria e Lanny Gordin na guitarra. Todos eles são monstros e disso eu já sabia, é claro, mas não vou tentar em vão descrever o que aconteceu naquele palco. Só sei que não esquecerei.

Corre para o Palco Rock, a uns duzentos metros dali, que está começando o show do Golpe de Estado. Aí já são 4h25 da manhã. O show não foi longo, mas muito bom! Com o velho Golpão não tem erro, e seguraram a brava bronca de ter que me agradar, por terem que tocar depois de eu ter visto e ouvido alguns dos melhores músicos que vi e verei na vida. Após esse, não corri e não deu tempo de pegar a fila a ponto de entrar novamente no Municipal para o show das seis da manhã da Central Scrutinizer Band (Zappa cover), tocando ao vivo o álbum Overnite Sensation. Paciência. Vi um trecho da perfórmance no telão em frente e, despedindo-me dos cinéfilos, fui para casa andando na direção de um sol nascente maravilhoso, pra dormir de dia, que de sono também se vive.

sábado, 31 de março de 2007

O rabino que fala engraçado

Meu amigo Jonathan, de Columbus, Ohio, morou dois anos aqui no País do uirapuru e saiu com uma pronúncia do português quase melhor que a minha. Já o rabino Henry Sobel mora aqui desde 1822 e ainda não aprendeu. Ou aquele sotaque exagerado é pra parecer cool?

terça-feira, 27 de março de 2007

Mulheres que Cantam - Vol. 1: JANIS MARTIN

Já se passaram 51 anos. Ela não havia completado dezesseis. Janis Martin chegou à gravadora RCA logo depois de Elvis, e trazida pelo mesmo Steve Sholes, que apostara sua carreira de produtor executivo na contratação do Rei do Rock & Roll. Sholes, ao receber uma fita demo com “Will You, Willyum”, logo contatou os compositores em Richmond, Virginia, de onde viera aquela pérola, para convidar a cantora para gravá-la pela RCA Victor.

1956. Estúdios da RCA em Nashville. Produção de Chet Atkins. Na mesma sessão em que registrou “Will You, Willyum” para seu primeiro single, Janis gravou para o lado B, de sua autoria, “Drugstore Rock ‘n’ Roll”. Quem já esteve em uma festa rocker sabe o incêndio que esta música pode provocar. O gancho do refrão é infalível: “Drugstore’s rockin’, rock-rock; couples are boppin’, bop-bop” e assim por diante, na época em que esta temática, que flerta com o fútil mas tem boa poesia urbana, chegava à plena glória. O termo drugstore não se refere ao que conhecemos como farmácia (alguém se imagina comprando um banana split, pondo moedas na jukebox e dançando em uma drogaria?), mas sim a uma mistura disso com loja de conveniência ou lanchonete, o point.

Nos dois lados do single, Janis mostra que canta com aquele não-sei-o-quê que caracteriza o melhor rockabilly. Em bom português poderíamos chamar de... bossa! --comentei isso com meu amigo Leandro Jack Jeans, cantor de rockabilly, que concordou com o termo em imaculado carioquês, quando admirava a interpretação da moça.

Toda a melhor música, em termos de emoção, é feita de momentos. Os melhores cantores populares, por não serem exatos, também são feitos disso. As cantoras, que são melhores que os cantores, são crias de momentos intensos. Janis Martin foi escolhida para ser a primeira de nossas Mulheres que Cantam principalmente por trechos de “Drugstore Rock ‘n’ Roll”, que a menina, repito, fez aos quinze anos! Já na introdução cantada, “Rock-bop-jump-thump...”, o drive contido na primeira nota inspiraria gerações de seguidoras em um maravilhoso mundinho underground (que hoje é mais forte que em qualquer época). Os finais de cada quadrinha que compõe as estrofes são para se deliciar. Frases como “jitterbug hand-in hand” e a melhor, “and the cats are crying for more”. Quando mostro a gravação para alguns bem-aventurados, chamo a atenção para este trecho (logo após um minuto e meio no mp3 que você irá baixar daqui). Tudo é momento. Quando ela sustenta a nota no “more” é para arrebentar e arrebatar corações. E mais: O “crying” que o precede tem um vértice (como percebeu Rod Rodeio, guitar man do Tomada), que adiciona uma certa dramaticidade àquele momento de alegria absurda, as garotas por toda a pista, e os caras realmente chorando por mais. Na era do rock & roll fazia-se tanto com tão pouco! Ainda é assim, e às vezes ainda é bom.

Janis Martin foi apelidada naquele ano “The Female Elvis” (o equivalente feminino a Elvis), pela RCA, com permissão do próprio Rei. Nos anos seguintes ela gravou vários outros rocks fascinantes, com destaque para “Bang Bang”, de 1958.

Os dois lados do primeiro 45rpm de Janis Martin estão no link abaixo para download, extraídos do CD The Female Elvis: Complete Recordings, 1956-60, que a Bear Family, sempre ela, editou na Alemanha com todas as gravações da primeira cantora de rockabilly.


http://rapidshare.com/files/23048676/cantodocrooner_1.rar.html


Não resisto à tentação de incluir aqui a letra da música “Drugstore Rock ‘n’ Roll” para você acompanhar enquanto ouve, e enquanto ainda estiver na cadeira.

Mais uma vez eu digo: Divirta-se muito! E aguarde a próxima das Mulheres que Cantam aqui neste blog, quando avançaremos umas boas décadas para falar de outra diva. Quem será? Eu já sei. Até breve.

DRUGSTORE ROCK 'N' ROLL
(Janis Martin)
JANIS MARTIN (RCA 47-6491, 1956)

Rock-bop-jump-thump, rock 'n' roll
Drugstore's rockin', rock-rock
Couples are boppin', bop-bop
Jukebox jumpin', jump-jump
Feet keep thumpin', thump-thump
Drugstore's real gone man
Rock-bop-jump-thump, rock 'n' roll

Drugstore on the corner of main
That's where you find all the be-bop gang
The girls fill the jukebox and then demand
The jitterbug hand-in-hand
The boys have crew-cuts under their hats
The girls have leather sweaters, real cool cats
They're always together happy an' hep
Jumpin' to a rock 'n' roll step

Drugstore's rockin', rock-rock
Couples are boppin', bop-bop
Jukebox jumpin', jump-jump
Feet keep thumpin', thump-thump
Drugstore's real gone man
Rock-bop-jump-thump, rock 'n' roll

The records have a slow beat, a fast beat too
As long as they're rockin' any beat will do
Kittens gettin' groovy all over the floor
And the cats are cryin' for more
Take time out for a soda pop
Dig a new record with a lot of bop
Ice cream cones and banana split
Ten jumps ahead of a fit

Drugstore's rockin', rock-rock etc.

Barbarizando Araraquara e Catanduva

Tomada, sua banda de rock, estará na noite de 30 de março, sexta-feira, em Araraquara, no Almanaque bar. E sábado, 31, no Clube dos 300 em Catanduva, dividindo a noitada roqueira com a banda The Midnight Ramblers que faz Stones cover.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Morengueira da Singuilva

Há tanto tempo não escrevo para meu blog que vocês devem pensar que ele está abandonado.

É engraçado que hoje, por coincidência Dia Internacional dElas, ouço o politicamente incorreto cantado na voz do querido Moreira da Silva, o Kid Morengueira, em gravação dos últimos dias daquela tal malandragem carioca. "Na subida do morro me contaram que você bateu na minha nêga". Até aí tudo bem, o drama pertence à narrativa. Mas "Isso não é direito, bater numa mulher que não é sua" foi dose. Gargalhadas proibidas... Quer dizer que se fosse sua tudo bem? Haha! Autores deste opus insano: o próprio Morengueira e Ribeiro da Cunha. Não sabemos qual dos dois foi o letrista. Perde-se no tempo a questão ideológica e de costumes. Não vou entrar no âmbito criminal aqui. A música é "Na Subida do Morro", e é muito legal independente do conteúdo bizarro da letra, onde a violência vai muito além da surra na mulher, pois há a vingança, e é bem violenta.

Foi engraçado ouvir aquela frase em um dia com tantos significados.

Mudando de assunto, mas meio que no mesmo (do dia). Por falta de tempo ainda não iniciei, mas aguardem para breve a série "Mulheres que cantam", que aparecerá eventualmente neste blog. Textos deste apreciador do bem escrito e do bem cantado, em devoção a divas populares em um momento específico. Só as maravilhosas e o que elas fazem com suas vozes.

Até breve.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

I Love To Singa

Dia desses meu irmão me chamou para ver cartoons criados por Tex Avery. Os que assisti são todos muito, muito bons. Mas o melhor pra mim foi este, "I Love to Singa", que brinca com o Al Jolson de The Jazz Singer. Veja que nome maravilhoso o do bebê coruja, o crooner!
Produzido em 1936, esta versão é de um relançamento que teve os créditos originais substituídos por uma vinheta genérica, por isso não se lê que foi escrito e dirigido por Fred "Tex" Avery. Este é um dos primeiros trabalhos da fera.
Divirta-se muito!