sábado, 31 de março de 2007

O rabino que fala engraçado

Meu amigo Jonathan, de Columbus, Ohio, morou dois anos aqui no País do uirapuru e saiu com uma pronúncia do português quase melhor que a minha. Já o rabino Henry Sobel mora aqui desde 1822 e ainda não aprendeu. Ou aquele sotaque exagerado é pra parecer cool?

terça-feira, 27 de março de 2007

Mulheres que Cantam - Vol. 1: JANIS MARTIN

Já se passaram 51 anos. Ela não havia completado dezesseis. Janis Martin chegou à gravadora RCA logo depois de Elvis, e trazida pelo mesmo Steve Sholes, que apostara sua carreira de produtor executivo na contratação do Rei do Rock & Roll. Sholes, ao receber uma fita demo com “Will You, Willyum”, logo contatou os compositores em Richmond, Virginia, de onde viera aquela pérola, para convidar a cantora para gravá-la pela RCA Victor.

1956. Estúdios da RCA em Nashville. Produção de Chet Atkins. Na mesma sessão em que registrou “Will You, Willyum” para seu primeiro single, Janis gravou para o lado B, de sua autoria, “Drugstore Rock ‘n’ Roll”. Quem já esteve em uma festa rocker sabe o incêndio que esta música pode provocar. O gancho do refrão é infalível: “Drugstore’s rockin’, rock-rock; couples are boppin’, bop-bop” e assim por diante, na época em que esta temática, que flerta com o fútil mas tem boa poesia urbana, chegava à plena glória. O termo drugstore não se refere ao que conhecemos como farmácia (alguém se imagina comprando um banana split, pondo moedas na jukebox e dançando em uma drogaria?), mas sim a uma mistura disso com loja de conveniência ou lanchonete, o point.

Nos dois lados do single, Janis mostra que canta com aquele não-sei-o-quê que caracteriza o melhor rockabilly. Em bom português poderíamos chamar de... bossa! --comentei isso com meu amigo Leandro Jack Jeans, cantor de rockabilly, que concordou com o termo em imaculado carioquês, quando admirava a interpretação da moça.

Toda a melhor música, em termos de emoção, é feita de momentos. Os melhores cantores populares, por não serem exatos, também são feitos disso. As cantoras, que são melhores que os cantores, são crias de momentos intensos. Janis Martin foi escolhida para ser a primeira de nossas Mulheres que Cantam principalmente por trechos de “Drugstore Rock ‘n’ Roll”, que a menina, repito, fez aos quinze anos! Já na introdução cantada, “Rock-bop-jump-thump...”, o drive contido na primeira nota inspiraria gerações de seguidoras em um maravilhoso mundinho underground (que hoje é mais forte que em qualquer época). Os finais de cada quadrinha que compõe as estrofes são para se deliciar. Frases como “jitterbug hand-in hand” e a melhor, “and the cats are crying for more”. Quando mostro a gravação para alguns bem-aventurados, chamo a atenção para este trecho (logo após um minuto e meio no mp3 que você irá baixar daqui). Tudo é momento. Quando ela sustenta a nota no “more” é para arrebentar e arrebatar corações. E mais: O “crying” que o precede tem um vértice (como percebeu Rod Rodeio, guitar man do Tomada), que adiciona uma certa dramaticidade àquele momento de alegria absurda, as garotas por toda a pista, e os caras realmente chorando por mais. Na era do rock & roll fazia-se tanto com tão pouco! Ainda é assim, e às vezes ainda é bom.

Janis Martin foi apelidada naquele ano “The Female Elvis” (o equivalente feminino a Elvis), pela RCA, com permissão do próprio Rei. Nos anos seguintes ela gravou vários outros rocks fascinantes, com destaque para “Bang Bang”, de 1958.

Os dois lados do primeiro 45rpm de Janis Martin estão no link abaixo para download, extraídos do CD The Female Elvis: Complete Recordings, 1956-60, que a Bear Family, sempre ela, editou na Alemanha com todas as gravações da primeira cantora de rockabilly.


http://rapidshare.com/files/23048676/cantodocrooner_1.rar.html


Não resisto à tentação de incluir aqui a letra da música “Drugstore Rock ‘n’ Roll” para você acompanhar enquanto ouve, e enquanto ainda estiver na cadeira.

Mais uma vez eu digo: Divirta-se muito! E aguarde a próxima das Mulheres que Cantam aqui neste blog, quando avançaremos umas boas décadas para falar de outra diva. Quem será? Eu já sei. Até breve.

DRUGSTORE ROCK 'N' ROLL
(Janis Martin)
JANIS MARTIN (RCA 47-6491, 1956)

Rock-bop-jump-thump, rock 'n' roll
Drugstore's rockin', rock-rock
Couples are boppin', bop-bop
Jukebox jumpin', jump-jump
Feet keep thumpin', thump-thump
Drugstore's real gone man
Rock-bop-jump-thump, rock 'n' roll

Drugstore on the corner of main
That's where you find all the be-bop gang
The girls fill the jukebox and then demand
The jitterbug hand-in-hand
The boys have crew-cuts under their hats
The girls have leather sweaters, real cool cats
They're always together happy an' hep
Jumpin' to a rock 'n' roll step

Drugstore's rockin', rock-rock
Couples are boppin', bop-bop
Jukebox jumpin', jump-jump
Feet keep thumpin', thump-thump
Drugstore's real gone man
Rock-bop-jump-thump, rock 'n' roll

The records have a slow beat, a fast beat too
As long as they're rockin' any beat will do
Kittens gettin' groovy all over the floor
And the cats are cryin' for more
Take time out for a soda pop
Dig a new record with a lot of bop
Ice cream cones and banana split
Ten jumps ahead of a fit

Drugstore's rockin', rock-rock etc.

Barbarizando Araraquara e Catanduva

Tomada, sua banda de rock, estará na noite de 30 de março, sexta-feira, em Araraquara, no Almanaque bar. E sábado, 31, no Clube dos 300 em Catanduva, dividindo a noitada roqueira com a banda The Midnight Ramblers que faz Stones cover.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Morengueira da Singuilva

Há tanto tempo não escrevo para meu blog que vocês devem pensar que ele está abandonado.

É engraçado que hoje, por coincidência Dia Internacional dElas, ouço o politicamente incorreto cantado na voz do querido Moreira da Silva, o Kid Morengueira, em gravação dos últimos dias daquela tal malandragem carioca. "Na subida do morro me contaram que você bateu na minha nêga". Até aí tudo bem, o drama pertence à narrativa. Mas "Isso não é direito, bater numa mulher que não é sua" foi dose. Gargalhadas proibidas... Quer dizer que se fosse sua tudo bem? Haha! Autores deste opus insano: o próprio Morengueira e Ribeiro da Cunha. Não sabemos qual dos dois foi o letrista. Perde-se no tempo a questão ideológica e de costumes. Não vou entrar no âmbito criminal aqui. A música é "Na Subida do Morro", e é muito legal independente do conteúdo bizarro da letra, onde a violência vai muito além da surra na mulher, pois há a vingança, e é bem violenta.

Foi engraçado ouvir aquela frase em um dia com tantos significados.

Mudando de assunto, mas meio que no mesmo (do dia). Por falta de tempo ainda não iniciei, mas aguardem para breve a série "Mulheres que cantam", que aparecerá eventualmente neste blog. Textos deste apreciador do bem escrito e do bem cantado, em devoção a divas populares em um momento específico. Só as maravilhosas e o que elas fazem com suas vozes.

Até breve.