Dias sem café e noites sem sono.
Antes de tomar aquele banho pra ir votar, filar o almoço na casa da mamãe e partir para dois (ou três) ensaios, é hora de escrever umas linhas para o blog que é atualizado uma vez a cada década.
Enquanto tentava dormir, desviei o pensamento para a forma blasé, leviana e até desrespeitosa (geralmente sem intenção) com que às vezes os instrumentistas tratam o canto. Não me refiro a nenhum músico em especial, mas ao contexto, o "inconsciente coletivo" desse nicho, pra usar uma expressão da moda. Quando eu vejo um instrumentista entrando no assunto interpretação, acho até surpreendente, quase refinado. Quando existe algum conhecimento de causa (real; não alegado) então, é a exceção das exceções.
Uma vez um amigo quis me corrigir: "Você quer dizer interpretação do vocal". Não, porque isso nem existe. É interpretação da composição. Todos interpretam, bem ou mal, e não apenas executam, mas aí a discussão já vira sexo dos anjos. Quanto a melodia e letra da composição cantada, o papel de intérprete se desdobra por motivos óbvios. Parece que o público, ou parte dele, reconhece esse papel com mais facilidade que o próprio artista e músico, muitas vezes só preocupado com as questões técnicas - o que geralmente é um quadro até bom, porque pode não haver nem isso.
A culpa cai também sobre nós, cantores. Muitos de nós fazem desse trabalho um mundo semi-profissonal de aventureiros. Há vários anos já superei aquela fase de usar como muleta a "propriedade" da emoção, do feeling (termo quase sempre tão mal empregado). Todo mundo é gente e tem emoções, sentimentos et al. É balela dizer que a evolução técnica vai domesticar o músico, transformá-lo em robozinho ou podar o feeling (ui!). Ao contrário: Quanto mais a parte mecânica é dominada, maior é a entrega. Lido com isso no dia a dia em duas frentes: o canto e a locução. Técnica vocal, fono e prática de interpretação fazem uma diferença brutal, e isso só se aprende fazendo; cantando e vivendo ao mesmo tempo. Ou sendo público, com ouvidos de público "leigo" e aquele senso crítico de quem questiona e se interessa.
post-scriptum (chique, né?) ::::: Descendo as páginas deste blog, notei que várias postagens iniciam se referindo à raridade das atualizações. Achei engraçado.
domingo, 7 de outubro de 2012
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