Assisti ao filme Noel - Poeta da Vila, que conta a história, ou na verdade partes dela, da vida e obra de Noel Rosa. Fui à sessão para imprensa, obviamente para uma apreciação mais musical e iconográfica do que na intenção de ensaiar uma análise nos termos da sétima arte. Mesmo assim, do alto da minha condição de semi-analfabeto cinematográfico, posso afirmar que, enquanto cinema, ele é bom. Ele, o filme, é claro. Não brilhante; apenas bom. Mas bom já é o bastante. O personagem se encarrega do resto. Sim: Ele, Noel Rosa, é brilhante. Ou melhor, não há adjetivos! Idem para o Rio dos anos 1930.
O elenco está muito bem, com destaque para Noel Rapo... digo, Rafael Raposo no papel principal, e para os sambistas envolvidos, principalmente Mário Broder e Wilson das Neves. Este, mais conhecido por ser um consagrado baterista da MPB (Baterista Wilson das Neves chegando a ser subtítulo de um álbum homônimo de Elza Soares), ao representar o motorista profissional e cantor amador Papagaio, deixa como gema semi-lapidada o maior presente do filme ao expectador mais atento: a mais apaixonada e talvez a melhor interpretação gravada da canção que muitos consideram a obra-prima de Noel, "Último Desejo". É a cena em que Noel vai mostrar à mulher de sua vida, Ceci (Camila Pitanga) o seu samba de adeus, e que seria também a despedida da verve criativa de Noel ao mundo. Papagaio canta para Ceci a música de Noel, que está ao violão. Momento sublime. O filme, cuidadosamente ou não, apenas conta, com um texto na tela, a morte de Noel Rosa, pouco tempo depois, vencido pela tuberculose.
Por fim, o filme acerta, embora não pudesse ser diferente, ao se basear em Noel Rosa - Uma Biografia, o livro de João Máximo e Carlos Didier (um dos tijolos mais bem-escritos do planeta Brasil). Mas acerta ou não ao contar partes, embora importantes, mas não a vida de Noel como um todo, pulando arbitrariamente no tempo? O panorama fica completo para quem não leu o livro ou ainda não é familiarizado com a vida e A obra? Não. Contar a história de Noel de Medeiros Rosa em 99 minutos, este é que é o X do problema. Quer saber? Assista, sim. Estréia dia 2 de novembro. Assista, porque mesmo com o pulo de cinco anos, a pouca visibilidade do tão importante parceiro Vadico, e outros pequenos incômodos, você precisa dessa dose cavalar de poesia.